domingo, 6 de junho de 2010

Israel rejeita investigação conjunta de ataque; comunidade internacional pressiona

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não aceitou a proposta do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, de criar uma comissão internacional que investigue o ataque à frota que levava ajuda internacional à Faixa de Gaza e que resultou na morte de nove ativistas.

"Disse ao secretário-geral da ONU que a investigação dos fatos deve ser conduzida de forma responsável e objetiva e que estamos buscando outras alternativas", explicou Netanyahu aos ministros do Governo de coalizão que militam em seu partido, o Likud.

O primeiro-ministro respondeu assim às informações divulgadas hoje pela imprensa de que tinha dado seu consentimento à ONU para que investigasse os fatos através de uma comissão presidida pelo ex-primeiro-ministro da Nova Zelândia Geoffrey Palmer, especialista em Direito Marítimo, que também contaria com especialistas americanos, um representante turco e outro israelense.

A decisão final seria analisada nesta noite por uma comissão formada pelos sete ministros mais destacados do governo, mas a reunião terminou após quatro horas sem que nenhum consenso, além de que deve seguir estudando o caso na segunda-feira.

O Escritório do primeiro-ministro comunicou que Netanyahu falou esta noite com o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden; o presidente francês, Nicolas Sarkozy; o enviado do Quarteto para o Oriente Médio, Tony Blair, e os primeiros-ministros do Canadá, Geórgia, Bulgária e Grécia em uma rodada telefônica para explicar a postura de Israel sobre o bloqueio a Gaza.

"Israel atuou no caso como teria feito qualquer governo cujo país é atacado por milhares de foguetes e mísseis e se reserva o direito à legítima defesa", disse.

Antes de se reunir com os ministros, o embaixador israelense em Washington, Michael Oren, tinha assegurado à rede "Fox" que o país rejeita uma "investigação internacional". "Estamos tratando com a administração do presidente americano Barack Obama a forma como será realizada nossa própria investigação", acrescentou.

"Na conversa com Ban lhe comuniquei toda a informação que temos sobre a conduta dos membros do grupo extremista turco (o IHH, organizador da frota) que apoia o terrorismo", acrescentou Netanyahu.

Pressão

Os chefes da diplomacia francesa e britânica, Bernard Kouchner e William Hague, respectivamente, insistiram neste domingo sobre a necessidade da instalação de uma investigação "internacional" sobre o ataque. "Acreditamos que seja muito importante que haja uma investigação confiável e transparente sobre esse ataque", declarou à imprensa William Hague, depois da reunião em Paris com o francês. "Acreditamos que deve haver pelo menos uma presença internacional nessa investigação."

Também neste domingo, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, "convidou" Netanyahu a aceitar "uma investigação confiável e imparcial" sobre a intervenção israelense contra a Frota da Liberdade, na qual a França estaria disposta a participar, anunciou a Presidência do país.

"O presidente da República convidou", durante uma conversa por telefone, "Netanyahu a aceitar as petições do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a aplicação de uma investigação confiável e imparcial sobre as condições da intervenção israelense" contra a frota que tentava levar ajuda a Gaza.

Sarkozy expressou também "a disponibilidade da França de participar" dessas investigações. "Sobre a situação na Faixa de Gaza, o chefe de Estado declarou a urgência de chegar a uma solução para colocar fim ao bloqueio", completou nota do Palácio do Eliseu.

O ataque do exército israelense ao navio "Mavi Marmara", que fazia parte da frota que se dirigia a Gaza com ajuda humanitária e a intenção declarada de romper o bloqueio israelense à faixa, resultou na morte de nove ativistas turcos.

Israel sustenta que o grupo de ativistas que atacaram os militares que interceptaram o navio não subiram com o resto dos passageiros, mas em outro porto, por isso não se submeteram às revisões de segurança e levavam armas brancas. "Este grupo hostil tinha a clara intenção de iniciar um enfrentamento violento", afirmou Netanyahu na reunião do governo.

O Exército israelense informou nesta noite que achou provas sobre as supostas relações entre pelo menos cinco dos ativistas e o movimento muçulmano Hamas, de um lado, e a rede Al Qaeda, do outro.

Bloqueio

A rejeição de Israel à comissão é uma bofetada nos esforços dos Estados Unidos e da ONU de solucionar a crise e às pressões internacionais para que levante o bloqueio à faixa palestina. O bloqueio, que em seu formato inicial data de 2006, quando o Hamas capturou o soldado israelense Gilad Shalit, é um dos temas em que Netanyahu se mostrou mais inflexível.

"Não permitiremos o estabelecimento de um porto iraniano em Gaza. Não permitiremos o livre tráfico de material de guerra e contrabando ao Hamas", enfatizou.

A outra proposta com a qual Netanyahu trabalha é a criação de uma comissão como a que averiguou a Guerra do Líbano de 2006, e que a princípio não contaria com o apoio da comunidade internacional.

A ideia foi colocada pelo assessor jurídico do governo, Yehuda Wainstein, apoiado pelo ministro de Exteriores, Avigdor Lieberman, e o de Defesa, Barak, que defendem que "nenhum estrangeiro deve interrogar soldados israelenses".

O debate coincide com a expulsão hoje dos 19 ativistas e tripulantes que estavam a bordo do navio "Rachel Corrie", interceptado ontem em águas internacionais e rebocado até o porto israelense de Ashdod.

Os primeiros sete ativitsas, seis malaios e um tripulante cubano, saíram esta manhã pela passagem cisjordaniana de Allenby, na fronteira com a Jordânia, de onde serão repatriados, informou Sabine Haddad, porta-voz do Ministério do Interior.

Outros seis tripulantes filipinos devem deixar o país na próxima madrugada com direção a Manila, e os cinco ativistas irlandeses e o capitão britânico devem embarcar esta noite.

A norte-irlandesa Mairead Maguire, prêmio Nobel da Paz em 1976, é uma das ativistas detidas, assim como o irlandês Denis Halliday, ex-subsecretário-geral das Nações Unidas.

"Todos eles aceitaram finalmente a assinatura do documento (de repatriação voluntária). Inicialmente, os irlandeses se negavam a fazê-lo", explicou a porta-voz israelense.

O movimento Free Gaza, um dos organizadores da expedição, não manteve contato com nenhum deles desde que o navio foi abordado porque, segundo um de seus porta-vozes, Huwaida Arraf, eles estão "proibidos de falar inclusive com seus advogados".

com agências internacionai.

Folha.com

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