quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Com atraso de 8 anos, PSDB ‘exibe’ FHC na televisão

Folha
Oito anos e três sucessões presidenciais depois de ter deixado o Planalto, FHC será resgatado do "exílio" político que o tucanato lhe havia imposto.
Foi guindado à condição de protagonista do primeiro programa partidário do PSDB do ano de 2011 –dez minutos, em rede nacional de rádio e TV.
Vai ao ar na noite da quarta-feira (2) da semana que vem, em horário nobre. Além de estrelar a peça, FHC concebeu o roteiro.
Teve como conselheiro informal o publicitário Marcello Serpa, sócio da agência AlmapBBDO, um neófito em marketing político.
A aparição de Fernando Henrique Cardoso descerá à crônica do PSDB como uma espécie de expiação histórica da legenda.
Depois de amargar três derrotas presidenciais –2002, 2006 e 2010— o tucanato se deu conta de que o confinamento de FHC no armário foi um erro.
A contrição tardia chega depois que ruíram todas as alegações que justificaram a ocultação de FHC e de suas duas presidências.
O tucanato entrega-se agora ao exercício do remorso numa tentativa de atribuir utilidade política ao arrependimento.
Vai-se tentar traduzir para a linguagem das ruas as teses que FHC desfia em artigos que leva às páginas dos jornais em periodicidade mensal.
O miolo da mensagem realça um vocábulo caro a FHC: “processo”. Tenta-se demonstrar que o progresso do Brasil é obra coletiva.
Dito de outro modo: o PSDB venderá a tese de que o êxito de Lula começou a ser construído bem antes de 2003, num “processo” que traz as digitais de FHC.
Na prática, o tucanato esforça-se para construir um futuro a partir da reconstrução do seu passado. Vai, finalmente, assumir a ‘Era FHC’, da qual parecia envergonhar-se.
O ex-presidente achega-se à boca do palco num instante em que o PSDB se autoflagela numa guerra subterrânea. De um lado, José Serra. Do outro, Aécio Neves.
A maioria da legenda –FHC inclusive— enxerga em Aécio a melhor opção para 2014. Serra, porém, não se deu por achado.
O confronto não declarado manifesta-se nos procedimentos mais comezinhos da rotina partidária.
Materializou-se, por exemplo, há dois dias, numa reunião da bancada de deputados federais do PSDB.
No encontro, os deputados tucanos escolheram seu novo líder, Duarte Nogueira (SP), um político alinhado com o governador paulista Geraldo Alckmin.
Aproveitou-se o congraçamento da bancada para correr um abaixo-assinado em favor da recondução de Sérgio Guerra (PE) à presidência do PSDB federal.
Ouvido, Aécio pôs-se de acordo. Aconselhou a Sérgio Guerra que fosse obtido o assentimento de Alckmin.
Procurado, Alckmin enxergou certo açodamento na manobra. Mas não opôs obstáculos. Desceram ao papel 54 assinaturas.
A folha vai à Executiva do partido e à convenção de maio, quando serão escolhidos os novos dirigentes do PSDB, como sinalização da preferência da bancada.
Supreendido, Serra zangou-se. Estrilou em privado. Embora não admita em público, rumina a pretensão de presidir o PSDB. Algo que a infantaria de Aécio quer evitar.
Simultaneamente, inaugurou-se na bancada de senadores do PSDB um movimento em favor da acomodação de Tasso Jereissati no Instituto Teotônio Vilela.
A entidade se ocupa da formulação de análises e estudos que “orientam” o partido. Cogitara-se entregar o posto a Serra. Mas, sondado, ele refugou a cadeira.
Arrisca-se agora a ter de digerir a ascensão de Tasso (CE). Barrado nas urnas de 2010, o agora ex-senador é velho desafeto de Serra. Toca pela partitura de Aécio.
É sob essa atmosfera de franca conflagração que FHC recupera os refletores. Vai à TV e ao rádio como estrela solitária. Serra e Aécio não darão as caras no programa.

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