quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

PMDB testa Dilma e diz que não abre mão de Furnas

Alan E.Cober
Reabriu-se a temporada de caça às poltronas do segundo escalão do governo. Voltou à alça de mira do PMDB uma estatal eletrificada pela suspeição: Furnas.
O partido do vice-presidente Michel Temer decidiu testar os limites da paciência da presidente Dilma Rousseff.
Na semana passada, Dilma havia informado a Temer que o PMDB do Rio seria desalojado de Furnas. A coisa ficou, porém, no gogó.
No início da noite desta quarta (2), foi ao Planalto o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), que acaba de ser reconduzido à liderança do PMDB na Câmara.
Henrique dirigiu-se à Casa Civil, entreposto que faz a triagem das encrencas antes que elas cheguem ao gabinete de Dilma.
Recebeu o deputado o ministro petista Antonio Palocci, chefão da Casa Civil. Foi informado de que o PMDB-RJ não abre mão do controle de Furnas. Como assim?
Admite-se a troca de pessoas. Aceita-se a exigência de que os novos gestores de Furnas sejam técnicos. Porém...
...Porém, o PMDB acha que a escolha dos nomes é atribuição da bancada fluminense do partido, não do Planalto.
Em português claro: na visão da legenda de Temer, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deve conservar o título de xerife de Furnas.
Eduardo Cunha, cuja fonte de poder é um mistério, manda e, sobretudo, desmanda em Furnas desde a gestão Lula. Sob Dilma, foi alvejado por um dossiê do PT.
O papelório foi levado ao Planalto pelo grão-petê Jorge Bittar, atual secretário de Habitação da prefeitura do Rio. Empilha malfeitos praticados em Furnas.
Entregue ao ministro petista Luiz Sérgio (Relações Institucionais), o documento ganhou, simultaneamente, as manchetes.
Inconformado, Eduardo Cunha, como é de seu estilo, abriu o paiol. Pôs-se a disparar ameaças de reataliação. Para Dilma, tornou-se um aliado tóxico.
Daí a decisão de higienizar a estatal. O rodo seria acionado na presidência de Furnas e desceria às diretorias, em que se misturam apadrinhados do PMDB e do PT.
Chama-se Carlos Nadalutti o atual presidente de Furnas. É soldado recrutado pelo general Eduardo Cunha.
Para o lugar dele, informou Dilma a Temer, iria Flácio Decat. Funcionário de carreira de Furnas, seria, em tese, um técnico.
Na prática, é um técnico sui generis. Traz na testa uma espécie de marca do Zorro. A diferença é que, em vez do ‘Z’, Decat é marcado com o ‘S’ da família Sarney.
Foi alçado a postos de relevo no setor elétrico a pedido do empresário Fernando Sarney, um dos filhos do tetrapresidente do Senado, José Sarney.
O ministro Edison Lobão (Minas e Energia), guindado à Esplanada na cota de Sarney, apressou-se em endossar o nome de Flávio Decat.
Na visita noturna que fez a Palocci, Henrique Alves cuidou de levar o pé à porta. Disse que o PMDB da Câmara não avaliza Decat.
Informou que a bancada do Rio, dona de nove votos na Câmara, deseja sugerir outros nomes. Todos técnicos, naturalmente.
Nos próximos dias, vai-se descobrir até onde Dilma está disposta a deixar o melado escorrer.
Está em jogo o futuro de uma estatal que, no ano passado, respondeu por investimentos orçados na casa de R$ 1,2 bilhão.
Vista sob a ótica do interesse público, Furnas é uma empresa estratégica. Observada a partir do balcão das transações políticas, representa um grande negócio.

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