quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dengue mata porque rede de atenção básica não funciona

A dengue hemorrágica está matando porque a rede de atenção básica não funciona. O alerta é do presidente da Sociedade de Infectologia do Rio Grande do Norte, Hênio Lacerda. Ontem pela manhã, em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa para debater a epidemia de dengue, o médico foi claro, não mediu palavras. Relatou o que vê e o que sente no dia a dia do hospital de referência para a, o Giselda Trigueiro.

“Todos que morreram em Natal passaram uma, duas, três vezes ao pronto-atendimento. Em alguns, esses pacientes já estavam com sinais de alerta e foram encaminhados para casa”, afirmou Hênio Lacerda. Diante do secretário estadual de Saúde, Domício Arruda, e da secretária adjunta de saúde do município de Natal, Maria do Perpétuo Socorro, o médico disse que há falhas na prevenção; no combate ao mosquito e na assistência. 

Rotineiramente, o hospital Giselda Trigueiro, referência para formas graves de dengue, está lotado de pacientes de diversos municípios, sendo a maioria de Natal. Na noite da segunda-feira, (11/03), relatou Hênio Lacerda, “só restou um leito pra colocar paciente, o leito onde eu ia dormir”. Todas as cadeiras e as macas estavam ocupadas. O Estado tem um deficit de 265 leitos clínicos. Só de UTI precisaria, pelo menos, dobrar o total existente hoje – 93.

O secretário Domício Arruda disse que o problema maior é de pessoal. O Estado teria como abrir 20 novos leitos, mas não tem como contratar técnicos e enfermeiros. Somente para abrir quatro novos leitos de UTI adulto no Hospital Walfredo Gurgel seria necessária a contratação de 54 técnicos e enfermeiros. Diante da gravidade da situação, disse, Estado e municípios precisam unir esforços para o controle da doença.

As falhas na atenção básica, diz Hênio Lacerda, estão aumentando as formas graves da doença. Segundo ele, a tendência nos próximos meses é de aumento da febre hemorrágica de dengue, principalmente em crianças e idosos, cujo sistema imunológico é mais vulnerável. “Há o descompromisso de quem era para prevenir e de quem era para atender”, alfinetou o infectologista.  “Onde a gente vai colocar tanto paciente, quando chegar no estado o sorotipo 4?”, questionou às autoridades presentes. Ele lembrou que a dengue era uma epidemia anunciada pelo Ministério da Saúde. O sorotipo 4 vai agravar a epidemia.

Nessa epidemia, o Estado voltou a isolar o sorotipo 1, que não circulava há oito anos. Pelo último boletim epidemiológico da dengue, emitido dia 07 de abril, já são 6.643 casos notificados no Estado - um crescimentos de 875% em relação ao ano passado.

A Sesap registrou 1.470 casos confirmados da doença. No Serviço de Verificação de óbitos (SVO) tem nove mortes sob investigação, suspeitas de dengue hemorrágica. No Giselda tem outros dois casos.

Segundo a diretora do Departamento de Vigilância e Saúde de Natal, Cristiane Souto, a cidade tem alta incidência com uma taxa geral de 178,25 notificações por 100 mil habitantes e 90% dos bairros estão acima da incidência aceitável. O bairro que mais preocupa é o de Mãe Luiza.

Em termos de infestação, Natal está registrando 2% dos domicílios com foco de dengue, quando o Ministério da Saúde preconiza como aceitável menos de 1%. “Os serviços de prevenção, vigilância e assistência precisam se estruturar o mais rápido possível”, cobrou a coordenadora do Centro de Apoio às Promotorias da Cidadania, Daniele de Carvalho Fernandes.

A deputada Márcia Maia, autora da proposição para a audiência pública, leu a minuta do projeto de lei que prevê a notificação e, em caso de reincidência, de multa àqueles proprietários onde for constatado foco do mosquito  transmissor da dengue. Hênio Lacerda sugeriu que a deputada incluísse punição para médicos, gestores e agentes de saúde que não cumprem seu papel.

SMS lança plano de contingência amanhã

Em entrevista à Tribuna do Norte, o secretário municipal de Saúde, Thiago Trindade, afirmou que a Prefeitura de Natal anuncia amanhã o Plano de Contingência contra a dengue. Entre as diversas ações, está a contratação de 150 agentes de endemias e a implantação de um centro de hidratação, na Unidade Mista da Cidade da Esperança. Nessa, unidade, a SMS vai utilizar a parte da estrutura que passou por reforma recentemente.

Segundo ele, o plano estava passando por ajustes e seria apresentado hoje a prefeita Micarla de Souza. “Amanhã (disse referindo-se a esta quarta-feira) devemos fazer os ajustes que forem solicitados pela prefeita”, informou. Segundo o secretário, a dengue estava sendo monitorada. “Não foi por falta de planejamento que não agimos, mas porque nenhum técnico nos dizia com segurança que estávamos entrando em uma epidemia”, tentou justificou.

Ele confirmou que a gestão e o gerenciamento do plano de contingência devem ser assumidos  por Organização Social (OS). Segundo ele, o plano inclui a requalificação dos agentes de endemias; o cumprimento das oito horas de carga de trabalho; a distribuição de novos equipamentos de proteção individual e de trabalho para os agentes.

Segundo denunciou na audiência pública o presidente do Sindicato dos Agentes de Endemias, Cosmo Mariz, os agentes estavam trabalhando sem lanternas e trena. Na audiência pública, a Secretaria Municipal de Saúde foi representada pela secretária adjunta, Maria do Perpétuo Socorro, e pela diretora do Departamento de Vigilância em Saúde, Cristiane Souto.

Elas anunciaram que as UBVs (carros fumacês) começam, provavelmente, hoje, a circular nas zonas oeste e leste de Natal, regiões de maior infestação. Quanto à estruturação dos serviços da rede de atenção básica a secretária adjunta disse que os problemas serão minimizados com os centros de hidratação. Ela anunciou que o município contratou sete leitos pediátricos de UTI e 17 leitos de clínica médica em UTI, na rede privada.

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