sábado, 9 de abril de 2011

Vizinhos de lagoas temem novas inundações


Marco Carvalho - repórter

Lixo, mato, abandono, bombas quebradas. Esse é o cenário de praticamente todas as lagoas de captação de águas pluviais em Natal. Nem mesmo a proximidade do período chuvoso na capital, apressa os serviços de manutenção e reparos nesses equipamentos.  Cansados de vivenciar ano após ano os prejuízos causados pela chegada do inverno, os vizinhos das lagoas reclamam e tomam atitudes para tentar evitar estragos. Muitos chegam, inclusive, a limpar as áreas das lagoas, tentando evitar alagamentos com a chegada das chuvas.

fotos: adriano abreuLagoa no Parque das Dunas é o exemplo do abandono: tem muito lixo, mato, não possui bombas e há meses está sem manutenção. A tubulação existente está enferrujadaLagoa no Parque das Dunas é o exemplo do abandono: tem muito lixo, mato, não possui bombas e há meses está sem manutenção. A tubulação existente está enferrujada
A TRIBUNA DO NORTE visitou durante todo o dia de ontem seis lagoas de captação de diferentes zonas da capital. Mesmo não consideradas as mais problemáticas da cidade, fica claro a ausência de manutenção e atenção por parte das autoridades responsáveis.

Falta de limpeza do mato que cresce constantemente e quebras sucessivas das bombas terminam em alagamentos já conhecidos e noticiados ano após ano.

Na lagoa localizada no conjunto Parque das Dunas, zona Norte de Natal, a reportagem encontra a iniciativa de moradores para não sofrer no futuro. O auxiliar de serviços gerais, Elias Pinheiro da Silva, 41, limpa parte do terreno de propriedade da prefeitura. “A última vez que vi eles [prefeitura] limpando aí foi quando Lula veio aqui. De lá pra cá, mais nada. Eu mesmo me encarrego de limpar aqui na frente para diminuir um pouco os problemas”, disse, fazendo referência à visita do ex-presidente em junho de 2010. A lagoa já está assoriada. “Antes, a parte ali do meio era mais funda. Agora, está assim por causa das chuvas que levam a areia”, afirmou.

No conjunto Santarém, a preocupação é um novo alagamento. “Se a chuva for forte, vai inundar. Além do mais, temos que conviver com a grande quantidade de mosquitos por causa do matagal que cresce lá dentro”, reclamou a dona de casa Ivanete Alves, de 45 anos – moradora do conjunto há 14 anos.

A preocupação quanto a transbordamento já se transformou em ação no bairro de Cidade da Esperança, na zona Oeste. Lá, a dona de casa Regina Lúcia Costa, 48, construiu muretas para impedir que a água invada a residência e estrague os eletrodomésticos. “Meu marido   aumentou o muro para tentar evitar novas inundações. Já teve vez que fui retirada de barco aqui de casa”, contou Regina.

No final da rua Palmares, onde a dona de casa mora com o marido e os três netos, fica a lagoa de captação. Para os desavisados, parece um matagal. A presença de árvores e plantas reduzem consideravelmente a capacidade de absorção do local.

Inacabada

Há problemas também em lagoas construídas recentement, como a do bairro de Capim Macio, na zona Sul. A drenagem vem melhorando a passos curtos ao longo dos anos, com a construção de uma grande lagoa de captação na rua Ismael Pereira da Silva. Inacabada, a obra ainda não realizou todas ligações das ruas e ainda há formação de poças em algumas ruas ainda não calçadas. Como na rua Antônio Madruga. O empresário Luiz Siqueira, 62, contou que já enfrentou muitos problemas nos noves anos que mora no bairro. No entanto, fez a ressalva de que as coisas estão melhorando. “Estamos avançando devagar. Antes isso, do que não avançar”.

Ressalvas também são feitas pela dona de casa Maria do Céu, 51. Vizinha de uma lagoa de captação no Pajuçara, zona Norte, ela disse à reportagem que a limpeza é freqüente, mas muitos moradores não colaboram. “Eles limpam bastante por aqui, mas muitas pessoas vem jogar lixo lá dentro, o que no futuro dará problemas para a gente”, ressaltou.

Secretário garante trabalho emergencial

“As lagoas de captação estarão aptas até a chegada do período chuvoso em Natal”. A garantia é do secretário municipal de obras públicas, Dâmocles Trinta.

Em contato com a reportagem, o secretário disse que terá uma atenção maior com os locais que geralmente causam mais problemas. “Haverá um cuidado maior com as lagoas menores e que se localizam em concentrações urbanas. Como a do Jiqui e a da avenida da Integração”.

Ele contou que a manutenção de bombas já está ocorrendo e elas estarão preparadas a tempo. Dâmocles ressalta que só se houver chuvas anormais, haverá transtornos. “Quero que as chuvas sejam boas para quem precisa delas. Aqui em Natal só haverá problemas se for alguma coisa muito forte”.

Dâmocles informa ainda que o contrato com a empresa responsável pela preservação se encerrará em dois meses. “Uma nova negociação está em curso. Dispomos de R$ 7 milhões para contratar esses serviços e estamos antecipando essa licitação”.

Questionado sobre as limitações do contrato atual, o secretário faz ressalvas. “Claro que seria melhor se fosse maior, se abrangesse mais lagoas ao mesmo tempo. Mas as prefeituras de todo o país passam por uma crise financeira e não há condições aqui”, disse.

Nesta semana, o secretário se reuniu com representantes da empresa responsável pela obra de drenagem, a qual ainda tem uma das paredes a ser construída, em Capim Macio. Houve a discussão dos contratempos e foi definido o prazo do mês de maio para a conclusão.

“Falta critério e operação por parte do município”

Desde o início desta semana, o Ministério Público Estadual realiza uma inspeção nas lagoas de captação da capital. Através da  Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, o estudo tem como objetivo constatar a situação destes locais em face da aproximação do período chuvoso no estado.

Em contato com a reportagem da TRIBUNA DO NORTE na manhã de ontem, a promotora Gilka da Mata, antecipou uma visão parcial sobre as inspeções já realizadas. Das 59 lagoas existentes em Natal, 18 já foram vistoriadas; todas na zona Norte.  “Falta critério e operação por parte do município. O trabalho de limpeza desses lugares era para ser rotina e já devia estar feito”, declarou Gilka.

Os problemas encontrados por ela vão de assoreamento ao excesso de mato, que causam problemas sanitários – como surgimento de mosquitos.

Com o final da inspeção, previsto para daqui a duas semanas, a expectativa da promotora é alcançar um acordo com a prefeitura. “Tentaremos uma parceria com diversas secretarias. Se não houver tempo para as ações antes das chuvas, teremos medidas emergenciais”.

Os serviços de limpeza deste setor são terceirizados e a promotora aguarda o envio do contrato para análise. “Veremos se está previsto no documento a capacidade de a empresa limpar toda as lagoas antes do período chuvoso. Se não existir esse planejamento, iremos apurar as responsabilidades do município”, encerrou.

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