quarta-feira, 6 de abril de 2011

Radiação é detectada longe da usina


Tóquio (AE) - Autoridades japonesas informaram ontem que descobriram níveis incomumente altos de materiais radioativos em peixes encontrados a 80 quilômetros da usina nuclear Daiichi, em Fukushima. A descoberta gera temores de que a água radioativa da usina ameace a vida marinha e também uma importante fonte de alimentação no país. Isso ocorreu após o governo e a empresa que administra a usina, a Tokyo Electric Power Co. (Tepco) informarem que a radioatividade estava milhões de vezes superior ao nível legal em áreas marinhas próximas à usina. Segundo a Tepco, foi detectado nessa outra amostra um nível de iodo radioativo cinco milhões de vezes superior ao limite legal, enquanto o césio-137 apresentava índice 1,1 milhão de vezes maior. As amostras de peixes radioativos, bem como da água próxima à usina, foram colhidas antes da Tepco iniciar a operação de bombear 11,5 mil toneladas de água com baixa radioatividade no Oceano Pacífico, o que a empresa começou a fazer na noite da segunda-feira.

stephen morrison/efe/aeDepois de leite e vegetais, autoridades sanitárias encontram altos índices de iodo radioativo e césio em peixes trazidos do mar do JapãoDepois de leite e vegetais, autoridades sanitárias encontram altos índices de iodo radioativo e césio em peixes trazidos do mar do Japão
Uma amostra recolhida na manhã da segunda-feira em uma área marinha próxima ao reator 2 de Fukushima revelou uma concentração de iodo-131 de 200 mil becquerels por centímetro cúbico. As análises também mostraram que a presença de césio-137 superava o limite legal em 1,1 milhão de vezes, segundo fontes da Tepco citadas pela emissora estatal de televisão NHK.

Enquanto o iodo-131 tem vida média relativamente breve, de oito dias, o período de semidesintegração do césio-137 é de 30 anos. No sábado, a concentração de iodo-131 era ainda maior, de 300 mil becquerels por centímetro cúbico, equivalente a 7,5 milhões de vezes o limite legal, segundo a Tepco. Outras amostras, coletadas também na segunda-feira e em áreas bem mais distantes da usina, mostraram níveis de radioatividade acima do permitido nos peixes.

Segundo a prefeitura de Ibaraki, duas amostras de pequenos peixes chamados konagos, pescados em áreas diferentes perto da costa do Pacífico, em Ibaraki, norte do país, continham níveis de material radioativo acima do permitido. A prefeitura de Ibaraki fica dezenas de quilômetros ao sul da prefeitura de Fukushima, onde está a usina. Os peixes foram pescados a uma distância de 80 quilômetros da problemática usina nuclear.

Em uma amostra coletada em 1º de abril, uma cooperativa de pesca local detectou 4.080 becquerels por quilo de iodo radioativo. Ontem, o governo japonês estabeleceu um limite de 2.000 becquerels por quilo para os peixes, o mesmo nível permitido em vegetais. Em outra amostra coletada na segunda-feira, foram detectados 526 becquerels de césio por quilo de peixe. O valor ultrapassa o limite de 500 becquerels por quilo desse componente.

As novidades foram a primeira indicação clara de contaminação radioativa nos peixes, após o vazamento de água radioativa da usina Daiichi, atingida em 11 de março por um terremoto e um tsunami. Radiação elevada foi encontrada em alguns produtos como leite e vegetais. Mas a descoberta da contaminação dos peixes pode gerar mais temores de que o vazamento de água radioativa da usina gere contaminação generalizada. Na noite da segunda-feira a Tepco lançou mais de 11 milhões de litros de água pouco radioativa no Oceano Pacífico, mas busca evitar que água ainda mais radioativa também acabe seguindo para o oceano.

O Japão importa mais peixe que exporta, Mas no ano passado exportou o equivalente a US$ 2,3 bilhões em pescado. Nesta terça-feira, a Índia informou que suspenderá as importações de alimentos do Japão por três meses, até que surjam informações precisas de que o risco de contaminação de produtos de origem agrícola e animal não existe mais ou foi controlado. Ontem, contudo, surgiu o que parece ser uma boa notícia, quando a Agência de Segurança Nuclear e Industrial do Japão informou que uma resina isolante que os trabalhadores espalham na usina, para tentar conter o vazamento de água radioativa, está dando resultados.

A Tepco disse que dará a cada cidade da região mais afetada pelo desastre nuclear uma soma de 20 milhões de ienes (US$ 240 mil), como um “dinheiro de desculpas” pelo problema. Um município já afirmou que recusará o dinheiro, que significaria apenas US$ 12 para cada morador. O valor das ações da Tpeco despencou para 362 ienes no pregão de ontem na Bolsa de Tóquio, caindo para o nível mais baixo desde dezembro de 1951. Desde o terremoto seguido de tsunami e acidente nuclear, em 11 de março, as ações da Tepco já perderam 80% do valor.

O chefe de uma nova agência internacional de energia fez um apelo ontem para que os consumidores comecem a procurar fontes alternativas de energia e pressionem os governos para isso, em seguida ao desastre nuclear japonês. O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Renovável, Adnan Amin, fez os comentários ao final do primeiro encontro mundial da agência em Abu Dabi, capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU).  “Ao redor do mundo inteiro as pessoas começaram a questionar novamente e a buscar quais são as alternativas” ao uso da energia nuclear, disse Amin. Ele disse que a Agência não irá promover o uso da tecnologia nuclear mesmo que a nação que a hospeda, os Emirados Árabes, seguir em frente com suas ambições de energia nuclear.

Radioatividade preocupa os europeus

Viena (AE) - A União Europeia planeja endurecer os limites de radioatividade de alimentos importados do Japão, informou ontem Ministério da Saúde da Áustria. O órgão citou declarações do comissário de saúde da UE, John Dalli, durante uma reunião em Godollo, na Hungria. Segundo Fabian Fusseis, um porta-voz do ministro da Saúde austríaco, Alois Stoeger, que compareceu ao encontro de ministros da Saúde do bloco no Castelo Godollo, nas proximidades de Budapeste, Dalli disse que os limites de radiação mais estritos serão impostos sobre a comida japonesa, após o desastre na usina nuclear Daiichi, em Fukushima. A usina apresentou vários problemas após um forte terremoto e um tsunami, em 11 de março.

O presidente da Comissão Europeia, Jose Manuel Barroso, confirmou os planos em declaração ao Parlamento Europeu. Segundo Barroso, o tema será votado pelos Estados integrantes da UE na  próxima sexta-feira.O bloco de 27 nações quer que seus limites atuais de radioatividade sejam os mesmos do próprio Japão, no caso de elementos como o césio-134 e o césio-137, disse o porta-voz de Dalli, Frederic Vincent, em entrevista à France Presse. Com isso, o limite atual da UE de 1.250 becquerels por quilo seria reduzido para 500 becquerels por quilo. O novo limite de iodo-131 seria de 2.000 becquerels por quilo, e o de estrôncio-90 seria de 750 becquerels por quilo.

Atualmente, a UE pede às autoridades japonesas que chequem a radiação de todos os alimentos exportados. Autoridades nacionais dos países importadores também inspecionam ao menos 10% desses produtos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário