segunda-feira, 21 de março de 2011

Concentrações elevadas de iodo radioactivo detectadas no Pacífico

Substâncias radioactivas foram identificadas no Pacífico, próximo da central nuclear de Fukushima 1, palco do segundo maior acidente da história da energia atómica.
Do reactor nº 3 sai uma imensa nuvem de fumo Do reactor nº 3 sai uma imensa nuvem de fumo (Foto: Reuters)

Segundo a empresa Tepco (Tokyo Electric Power Company) – operadora da central – foi detectado iodo radioactivo na água do mar em concentrações 127 vezes superior ao limite permitido. A presença de césio-134 chega a 25 vezes o limite e de césio-137, 16 vezes..

A Tepco afirma, porém, que os valores de radioactividade agora encontrados no mar não representam perigo imediato para a saúde. “Seria necessário beber a água por um ano de modo a acumular um milisievert”, disse um responsável da Tepco, citado pela agência Reuters. Um milisievert por ano é um valor normal, sem riscos, de exposição humana à radiação.

As análises foram feitas sobre uma amostra de água colectada a 100 metros da central de Fukushima.

Os reactores da central – que há uma semana enfrentam graves problemas, na sequência do sismo e tsunami de 11 de Março no Japão – têm sido arrefecidos com o lançamento de grandes quantidades de água do mar, a partir de helicópteros e viaturas militares e dos bombeiros.

Um novo percalço – fumo negro e acinzentado a sair do reactor 3 – obrigou hoje à evacuação temporária da central nuclear de Fukushima 1. Mas a electricidade foi restaurada em outros reactores, o que poderá permitir um maior controlo da situação causada pelo sismo. O fumo foi detectado às 15h55 locais (6h55, hora portuguesa), segundo a agência de notícias japonesa Kyodo. A Tepco retirou temporariamente da central os seus funcionários para avaliar a situação. Duas horas depois, a nuvem de fumo tinha sido reduzida.

Não foi registada qualquer alteração aos níveis de radioactividade no ar, depois da libertação do fumo, em relação a medições feitas no domingo. No entanto, a Tepco evacuou a central e suspendeu tanto o trabalho de ligação dos reactores 3 e 4 à rede eléctrica, quanto o seu arrefecimento com canhões de água.

Os outros quatro reactores já estão reconectados fisicamente à rede, mas apenas o reactor 2 tem efectivamente a electricidade restaurada, estando a ser alvo de testes. A Tepco irá primeiro ligar as luzes da sala de controlo, antes de ligar os instrumentos que medem a pressão, a temperatura e a radiação dentro do reactor. Se tudo correr bem, o próximo passo será reactivar o sistema de arrefecimento. Ontem, foi detectado fumo branco – possivelmente vapor – a sair deste reactor.

O sismo e tsunami do passado dia 11 cortaram a energia em todos os reactores, impedindo o seu normal arrefecimento. Quatro reactores foram alvo de explosões e houve fuga de radioactividade para o exterior.

O Governo japonês está a divulgar, via Internet (www.mext.go.jp), todos os dados sobre os níveis de radiação. Valores elevados – que superariam o limite aceitável se se mantivessem durante um ano – foram observados para além de um raio de 30 quilómetros da central. Seis trabalhadores de Fukushima 1 foram expostos a níveis elevados de radiações, mas continuam a trabalhar.

Níveis anormais de radiação foram também detectados no leite, verduras e água na região mais próxima da central. O Governo assegura que os valores encontrados não significam uma ameaça para a saúde, mas suspendeu a venda de alguns produtos e pediu às populações para não beberem água da rede.

A Agência Internacional de Energia Atómica ainda considera a situação em Fukushima “muito grave”, mas acredita que será solucionada. “Não tenho dúvidas de que esta crise será efectivamente superada”, disse hoje Yukiya Amano, director da agência.

O Governo japonês admitiu ontem que a central não voltará a funcionar. “Considerando com objectividade a situação na central, penso que se torna evidente que a central de Fukushima 1 não está em condições de funcionar de novo”, declarou Yukio Edano, ministro porta-voz do Governo japonês, numa conferência de imprensa.

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