domingo, 24 de julho de 2011

Turismo: Recuperação de grandes hotéis não se concretiza

Hotéis Reis Magos e Natal Praia Resort - mais conhecido como hotel da BRA - sofrem com falta de manutenção e reformas anunciadas continuam no papel.

Por Silvia Ribeiro Dantas
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Foto: Elpídio Júnior
O turismo é um dos setores econômicos de destaque no Rio Grande do Norte e a orla da capital do Estado concentra importantes hotéis, que ostentam luxo, infraestrutura impecável e ótimos serviços. Mas, nesse cenário, dois empreendimentos do setor se destacam em Natal por uma realidade bem diferente: o hotel Reis Magos, na Praia do Meio, e o Natal Praia Resort, mais conhecido como hotel da BRA, na Via Costeira.

Apesar de histórias distintas, uma vez que o primeiro teve destaque na cena social natalense por anos e o segundo não chegou nem mesmo a ser concluído, os empreendimentos têm em comum estruturas comprometidas pela ação do tempo, aliada à falta de manutenção; bem como as freqüentes notícias de retomada das obras, divulgadas ao longo dos últimos anos e que parecem estar fadadas ao fracasso.

A pedido da equipe de reportagem do Nominuto.com, o arquiteto Tainço Ribeiro Dantas analisou fotografias feitas pela equipe de reportagem nos dois hotéis durante a manhã da quinta-feira passada (21). Ressaltando a necessidade de uma avaliação detalhada, ele afirma que vistorias cuidadosas deverão indicar se a recuperação dos imóveis é viável ou seria mais vantajoso demolir e erguer novos prédios.
Foto: Elpídio Júnior

Em relação ao hotel na Via Costeira, o arquiteto aponta que a ferragem exposta está comprometida, indicando que boa parte da estrutura precisa ser reforçada. Isso porque a ferrugem penetra no ferro, chegando a danificar inclusive partes que já haviam sido cobertas com concreto. “A ferrugem é como um câncer, que vai penetrando, tomando conta de todo o ‘corpo’ do prédio. Em construções erguidas na beira da praia, é preciso um cuidado maior, como capeamento mais espesso e maior espaço entre o ferro e o concreto”, detalha.

Já para possibilitar a entrada em operação do hotel Reis Magos, além do comprometimento estrutural, Tainço alerta que será preciso rever detalhes dos ambientes, como dimensões de quartos e corredores. Também deverá ser necessária uma adaptação do prédio à legislação atual, considerando a acessibilidade, questão que não era observada nos projetos do início da década de 1960. “Era um hotel bonito e deixaram se acabar. Agora, para conseguir recuperar vai ser muito difícil”, lamenta.
Foto: Elpídio Júnior

Ainda sobre o Reis Magos, o arquiteto sugere que a demolição talvez seja a melhor alternativa, tanto do ponto de vista financeiro, quanto da segurança. “Como é que se vai fazer uma coisa nova, em cima de uma estrutura já comprometida? O proprietário do hotel deverá pensar na segurança de quem vai utilizar o imóvel e muito terá que ser demolido, enquanto outra parte precisará ser reforçada. Assim, pode ser que fique mais econômico realizar uma implosão total, seguida de um projeto atual e, nesse caso, podem ser mantidas as linhas originais”, analisa.


Primeiro hotel à beira mar do Rio Grande do Norte, Reis Magos está fechado há mais de 10 anos

Obras de ampliação e revitalização do hotel Reis Magos, localizado na praia do Meio, vêm sendo divulgadas pela empresa proprietária do empreendimento - o grupo Pernambuco Hotéis S.A - desde 2006.

O anúncio mais recente ocorreu em abril deste ano e, de acordo com o diretor do grupo, Artur Percínio, para que seja iniciada a execução do projeto, falta apenas a liberação dos recursos, por parte do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). As intervenções estruturais deverão consumir cerca de R$ 20 milhões.
Foto: Elpídio Júnior

O hotel foi fundado em 1965, com uma estrutura oponente, de linhas arrojadas e figurando como primeiro empreendimento hoteleiro erguido à beira mar no Rio Grande do Norte. Hoje, o prédio só se destaca em meio a tantas outras construções na área pelo péssimo estado de manutenção, uma vez que é fácil perceber a exposição de parte da estrutura metálica que compõe o concreto armado do prédio nas varandas dos apartamentos, onde diversas luminárias resistem à queda iminente.

Além disso, a piscina que compõe o parque aquático do empreendimento acumula água da chuva, servindo de criadouros para diferentes espécies de mosquitos. Nem mesmo a escultura representando os três Reis Magos, disposta no jardim do hotel, resiste à ação do tempo, apresentando inúmeras fissuras e grandes rachaduras.
Foto: Elpídio Júnior

Com a obra de reforma e ampliação, o prédio deverá passar a contar com mais de 230 apartamentos, garagem subterrânea , lojas e centro de convenções. A intenção do grupo é manter as linhas arquitetônicas originais e o nome do hotel, que foi freqüentado por personalidades da sociedade potiguar durante décadas.



Com obra embargada há cinco anos, estrutura do Natal Praia Resort é tomada por erosão

A obra do Natal Praia Resort, chamado pelos natalenses de hotel da BRA, está paralisada há aproximadamente cinco anos e quem trafega pela Via Costeira se depara com uma imponente estrutura inacabada de concreto armado, cujas ferragens estão aparentes em diversos pontos. Também há muita madeira “podre”, que formava os andaimes e agora desaba com a ação do vento e da maresia.
Foto: Elpídio Júnior

Pela praia, a impressão de abandono é a mesma e uma placa alerta a quem pretende se aventurar a conhecer a obra mais de perto: Não entre. Perigo de vida.

O embargo à construção do hotel cinco estrelas, de responsabilidade do grupo HWF Empreendimentos S.A., ocorreu devido a discussões e batalhas judiciais sobre a legalidade do projeto, travadas entre o grupo e a prefeitura da capital, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb). A administração municipal considera que o último piso deixa o empreendimento com uma altura superior à máxima permitida para a área.

Ao longo de todo esse tempo de disputa, o impasse já foi motivo de audiência na Câmara Municipal, ações judiciais por parte da Prefeitura de Natal, da empresa e do Ministério Público Federal. Em julho do ano passado chegou a ser anunciado que os responsáveis pelo empreendimento teriam demonstrado disponibilidade em demolir o 8º pavimento (piso em que está posicionada uma placa indicando: 3º andar).
Foto: Elpídio Júnior

Entretanto, até o momento, nada mudou na obra. No terreno de quase 30 mil metros quadrados, em uma das áreas mais nobres de Natal, não há qualquer indício de retomada da construção e apenas um vigia permanece no local, para impedir a entrada de pessoas não autorizadas.

De acordo com um dos diretores do grupo HWF, Humberto Folegatti, o futuro do empreendimento será decidido por meio de decisões judiciais. “Está tudo nas mãos do advogado e dependendo da Justiça”, afirmou.

Procurado pela reportagem do Nominuto.com, o advogado Kaleb Freire não respondeu aos questionamentos acerca da atual situação judicial do Natal Praia Resort, nem informou se a obra deverá ser retomada pelo grupo responsável.
 

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